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Etapas finais do processo de restauração na escultura índio Peri do Teatro Guarany  

                                                                        Por: Cicero Thiago Baltazar 

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 Frontão do Teatro Guarani de Pelotas antes do processo de restauração

Disponível em: pelotasonline.blogspot.com – Acesso em outubro de 2019

       O curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis ICH – UFPEL, iniciou em 2017 o projeto de restauração da escultura em argamassa de cimento, índio Peri, que é parte central do frontão do Teatro Guarany, exatamente noventa e seis anos após sua instalação, que ocorreu em 1921, ano da inauguração do teatro. Inicialmente o projeto foi parte do programa de estágio obrigatório do curso, logo depois tornando-se um projeto de extensão que inspirou o TCC da graduanda Lindsay Rocha Taveira. No segundo semestre de 2019 o projeto é reaberto para toda a comunidade do curso de conservação e restauração, sob a orientação da Prof. Dra. Daniele Baltz da Fonseca, todas as terças-feiras às 9hs da manhã no terraço do Teatro Guarany.

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Escultura em argamassa de cimento em ambientação Fotografia: Cicero Baltazar

       A obra possui 0,37m x 0,62m x 1,91m (comprimento x largura x altura), e foi retirada de seu local original embalada em gelatina e bandagens, pois corria risco de cair em razão das grandes rachaduras que possuía na sua perna esquerda. Mesmo assim tal era a sua fragilidade que durante a sua remoção o antebraço direito, que já era uma intervenção anterior, as penas do cocar e da saia quebraram-se, e a lança entortou.

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Escultura envolta em bandagens de proteção Fonte: Lindsay Rocha Taveira, 2017

     A higienização foi realizada em todo a obra com trinchas e pincéis macios e secos, retirando as sujidades superficiais. Em seguida realizou-se a limpeza mecânica com água morna e escovas de cerdas rígidas, finalizou-se a limpeza com a raspagem das vegetações e musgos presentes nas fissuras com instrumentos odontológicos.

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Etapas do processo de higienização

 Fonte: Lindsay Rocha Taveira, 2017

         Um fato curioso é que, segundo informações, durante sua colocação em 30 de abril de 1921, o rosto se quebrou, permanecendo assim até os dias atuais e deixando à mostra parte da armação de ferro que constitui seu interior, sujeita a oxidações que expandem o ferro e por consequência provocam lesões na argamassa.  O grupo optou por não reintegrar a face da escultura, para não gerar falso histórico, já que não existe nenhum registro fotográfico da face em estado integral e visto que, sob o ponto de vista da escala da rua, de onde é observado, o rosto do índio é esteticamente irrelevante. Então, tratou-se a oxidação das ferragens expostas e vedou-se com argamassa de cimento, semelhante a original, levando-se em conta a prática da mínima intervenção.

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Face da escultura restaurada

       Foto: Cicero Baltazar

        A escolha dos materiais semelhantes levou em conta o fato de que a obra retornará para o seu local de origem ficando exposta as intempéries. Assim, se garante que os materiais utilizados tenham índices de absorção de água e dilatação semelhantes ao do material original contribuindo com a durabilidade da restauração exposta à chuva e ao sol.

           As reintegrações foram feitas utilizando argamassa de cimento e areia escaiola no traço 1:4. Havia macro e microfissuras por toda a escultura, atribuídos em geral à dilatação da superfície da escultura e do ferro devido à oxidação.

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Antes e após restauração das penas da saia e da perna Fonte: Lindsay Rocha Taveira, 2017

      Para a reintegração do cocar, utilizou-se as penas que estavam íntegras. Foram realizados vários testes para a confecção de moldes e então vários outros testes com diferentes proporções de argamassa e areia escaiola para que as penas ficassem o mais próximo possível das originais. Concluiu-se que uma argamassa de cimento e areia na proporção de 1:4 era a ideal e neste caso a utilização de arame de aço galvanizado ajudaria a fixar o objeto no local, e evitaria futuras oxidações.

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    Confecção das penas do cocar

Fonte: Lindsay Rocha Taveira, 2017

          Em seguida a obra foi selada com a técnica de esponjado. Aplicou-se uma finíssima camada de argamassa de cimento e areia escaiola no traço 1:4, bem líquida, com a ajuda de esponjas, de modo que fossem preenchidos todos os poros e microfissuras.

         A última etapa, que está ocorrendo no segundo semestre de 2019, consiste na fixação das penas do cocar, da mão direita, colocação do arco e da aljava e reparo de microfissuras. Então, com a ajuda de um guindaste, a escultura índio Peri será devolvida ao local onde foi criada para estar.

       Através de projetos como este a Universidade Federal de Pelotas contribui com a solução de problemas relacionados ao patrimônio cultural dessa cidade ao mesmo tempo em que oportuniza aos seus alunos uma formação ampla e embasada nas necessidades da sociedade.

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Reintegração do cocar, etapa de finalização Foto: Daniele Baltz Fonseca

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