Imagens 1, 2 e 3: Antes, durante e depois do tratamento no Cristo Crucificado. Detalhe.
Fonte: Pétrya Bischoff
O Museu Municipal Parque da Baronesa, localiza-se no bairro Areal, na cidade de Pelotas, trata-se de uma chácara que pertenceu à família de charqueadores Antunes Maciel. Foi adquirida em 1863 pelo Rio-Grandino Coronel Annibal Antunes Maciel, como presente de casamento para seu filho de mesmo nome – o Barão de Três Serros, e sua esposa Amélia Hartley de Britto. Na chácara, viveram três gerações dos Antunes Maciel, os quais se mudaram para a cidade do Rio de Janeiro, enquanto a residência virou moradia esporádica da filha Déa Antunes Maciel. Atualmente a edificação pertence ao município de Pelotas e abriga o Museu Parque da Baronesa.
Já Adail Bento Costa Filho nasceu em 1908, formou-se em Pintura no Instituto de Belas Artes de Porto Alegre e viajou pela Europa para aperfeiçoar seus estudos. Entre imagens, objetos litúrgicos, quadros e diversos objetos de arte, Adail restaurou 2043 peças. Deixou para o município de Pelotas sua coleção de antiguidades; parte dessa coleção se encontra hoje exposta no Museu da Baronesa, cuja restauração ele mesmo projetou e executou, há mais de trinta anos.
Uma parceria entre o Museu da Baronesa e o Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) oportunizou a restauração de 10 obras pertencentes ao acervo de arte sacra Adail Bento Costa. As obras ingressaram no Laboratório de Conservalçai e Restauração de obras em Madeira no primeiro semestre de 2019, para o desenvolvimento das atividades práticas da disciplina de Conservação e Restauração de Bens em Madeira II, do quinto semestre, sob responsabilidade da professora Daniele Baltz da Fonseca.
As obras foram distribuídas aos alunos da disciplina em março de 2019 e iniciaram-se os estudos pelas duplas ou trios, passando pelas etapas de identificação do objeto, testes organolépticos, fotográficos, de luz UV e raio X, de solubilidade e resistência da camada pictórica e base de preparação para o diagnóstico do estado de e discussão sobre os possíveis tratamentos. O subsídio para a elaboração da proposta de intervenção da obra foi a minuta do Manual de Orientações para Projetos de Restauração do IPHAN.
Após a elaboração da proposta de intervenção, com base nos resultados obtidos nas etapas anteriores, iniciou-se a intervenção. Para tal, cada obra necessitava de uma abordagem diferente, correspondente aos danos detectados.
A aluna Bruna, que está trabalhando em uma imagem espanhola do século XIX representando Nossa Senhora da Conceição, relatou que a obra chegou ao laboratório com infestação biológica ativa, além de estar com caminhos ocos em seu interior. Ou seja, houve a necessidade de realizar duas desinfestações e suas respectivas limpezas e posteriormente preenchimento e consolidação desse interior “rendilhado” (os caminhos feitos pelas térmitas).
Nesse momento, a obra está passando por reintegração pictórica e a última etapa será o verniz de proteção. Entretanto, Bruna Gentil comenta que não será possível terminar a obra nesse semestre.
Já a aluna Kerllen Cavalheiro aponta que sua imagem, que chegou ao laboratório sem rosto e sem braços, foi identificada como Santa Luzia devido a atributos iconográficos presentes. Ela afirma que a maior dificuldade encontrada na restauração da peça foi durante a etapa de limpeza, pois, conforme aponta a professora Daniele “a camada pictórica se mostrava frágil a todos os solventes utilizados durante a fase a testes e, portanto, foi utilizado o pó de borracha, que removeu sutilmente algumas manchas.”
A aluna Adriane Tejada trabalha em um Jesus Cristo Crucificado; ela está finalizando a cruz de madeira, a qual falta somente finalizar a reintegração cromática no douramento das ponteiras estilizadas e passar o verniz de proteção. A maior dificuldade apontada por Adriane foi a estabilização da estrutura da cruz pelo verso. A haste vertical da cruz apresentava uma intervenção na qual uma ruptura havia sido colada, provavelmente com PVA. Esta intervenção anterior soltou-se durante a limpeza da obra, mostrando a necessidade de remover os excessos de cola e promover uma nova fixação, desta fez foram usados pinos galvanizados para melhorar a sustentação estrutural do suporte, uma vez que a área de interface entre as partes quebradas era muito pequena.
Todas as imagens que chegaram ao laboratório em março de 2019 retornarão juntas ao Museu, quando estiverem prontas. Essa ação, além de propiciar que os alunos das disciplinas práticas tenham, ainda no curso, contato com obras de valor patrimonial, reflete, também, em uma contrapartida para a comunidade, que se beneficia com o acervo restaurado.
Enquanto acadêmica, a oportunidade de trabalhar com a peça do acervo de arte sacra de um museu como o da Baronesa, que possui um fio condutor na própria constituição da cidade de Pelotas, é inspirador e gratificante, pois mesmo a confiança depositada a nós, discentes, ao lidar com peças tão importantes, constitui um pilar importante na identidade do profissional conservador-restaurador.
Pétrya Bischoff
Pedadoga, Bacharelanda em Conservação e Restauração, Bolsista PET Conservação e Restauro.